sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Educar sem bater

Há poucos dias, conversando com uns amigos que são pais de um filho um pouco mais velho que o meu surgiu uma questão que, para dizer a verdade, acho que nunca me tinham feito: se alguma vez, eu ou o meu marido, tínhamos batido no nosso filho de três anos e meio. Ainda não me tinha ocorrido escrever aqui sobre este tema, porque, para mim, é tão claro que não temos o direito de bater nos nossos filhos que, por vezes, quase me esqueço que há muitas pessoas para quem isto não é assim tão consensual. Mas esta pergunta serviu para me lembrar que, infelizmente, para muitas pessoas, a palmada ainda é realmente um recurso válido e até essencial da educação parental.

Nesta questão aquilo que estava subentendido era que, se não batemos, então como fazemos para controlar o seu comportamento? Ou que, se não batemos agora, mais tarde podemos ter alguns problemas, sobretudo quando ele chegar à adolescência. Já ouvi alguns pais de adolescentes dizerem que tinham problemas com os filhos justamente porque eles não teriam apanhado o suficiente. 

Então há aqui várias questões, dentro desta simples pergunta, a que é importante responder. 

Em primeiro lugar, é importante afirmar que considero que realmente não temos o direito de bater nas crianças. Tal como eu não tenho o direito de bater no meu marido ou em quem me chateia por essa vida fora. E podíamos ficar por aqui porque, para mim, realmente esta é uma questão básica e fundamental: não acho que as crianças sejam menos merecedoras de respeito que os adultos e se faltamos ao respeito quando batemos num adulto fazemos exactamente o mesmo quando batemos numa criança, seja  lá porque motivo for. 

Mas, se ficássemos por aqui haveria ainda outras questões fundamentais que ficariam sem resposta. 
Então, é importante também perceber o que é acontece quando batemos numa criança e quais as consequências que isso poderá ter. 

Muitos adultos que batem nos seus filhos fazem-no com a justificação de também apanharam em crianças e isso não lhes fez mal nenhum. Acredito que o dizem porque já não são capazes de entrar em contacto com aquilo que sentiram nessas alturas. Porque um dos mecanismos de defesa mais comuns para nos defender das nossas feridas antigas é justamente a negação: queremos muito acreditar que não há ali nada que ainda nos incomode ou que ainda nos doa, porque se tivermos de voltar atrás e lidar com essa dor e com toda essa mágoa que ficaram esquecidas e guardadas durante tantos anos temos muito medo de não ser capazes de lidar com isso e nos perdermos nesse sofrimento que temos andado a conter durante tanto tempo. Ou então, à custa de tanto negarmos os nossos sentimentos, acabamos mesmo por nos esquecer que eles existem, a tal ponto que já nem somos capazes de imaginar o contrário. É verdade que algumas pessoas apanham e muito e mesmo assim conseguem construir uma vida digna e minimamente equilibrada mas a verdade é que não foi por terem apanhado que o conseguiram mas sim apesar de terem apanhado, porque provavelmente houve outras circunstâncias de vida que lhes permitiram ser capazes de ser felizes, independentemente das suas feridas de infância. 

Então o que é que acontece quando batemos numa criança? 

A criança tem um instinto básico para criar uma relação de apego com os seus pais. Hoje sabemos que, desde o primeiro momento em que nascem, os bebés já demonstram uma grande predisposição para criar laços, para estabelecer vínculos com as figuras que cuidam de si. Então o bebé tem um instinto muito forte para procurar um sentimento de protecção nos seus pais. A natureza é sábia e um bebé humano sozinho nunca sobreviveria, por isso todos os bebés e crianças têm esse instinto básico que lhes diz que devem procurar segurança e protecção junto dos seus pais. Acontece que, quando um pai ou mãe batem numa criança esse instinto é posto em causa: porque afinal a pessoa que deveria proteger a criança é justamente aquela que a está a agredir fisicamente. Porque uma palmada, por mais bem intencionada que seja, não deixa de ser uma agressão física, algo que por si só, traz sempre consigo uma sensação de ameaça. Se isto acontecer demasiadas vezes a criança fica perante um dilema que, para ela, não tem solução: a mesma figura que a deveria proteger é aquela que a faz sentir-se em perigo. Então isto coloca a criança perante um conflito interno que ela não tem capacidade de resolver.

Só as crianças já bem crescidas é que começam a ser capaz de acomodar a ideia de que duas coisas aparentemente contraditórias possam co-existir, ou seja, enquanto adulta eu sou capaz de pensar que a minha mãe gosta de mim mas que ás vezes fica sem paciência ou que eu gosto muito dos meus pais mas que às vezes também me chateio com eles. Isto requer uma capacidade de pensamento elaborada, que uma criança pequena não tem. Para as crianças pequenas as coisas ou são pretas ou brancas: uma criança pequena não tem capacidade de assimilar o facto de que as coisas não são apenas boas ou más, não consegue perceber que podem existir dois lados na mesma moeda e que existem uma série de cinzentos na vida. Na verdade, existem até muitos adultos que ainda não são capazes de perceber isto de uma forma muito sofisticada. Por isso a única estratégia que a criança encontra para lidar com isso é tentar bloquear todas as sensações provocadas por aquele acontecimento e tudo o que está associado a este. A criança cria uma certa dissociação daquilo que está a sentir porque não tem capacidade de integrar de outro modo aquela situação e ela é demasiado ameaçadora, intensa e assustadora para que possa aceitar a sua presença. Este mecanismo de dissociação poderá ser justamente aquilo que está na base do facto de muitos adultos que foram agredidos pelos pais já serem capazes de sentir o sofrimento que esse comportamento provocou neles e poderá ser o que está na base dessa crença de que não lhes fez mal nenhum apanhar.

Acontece que, se abusamos muito deste mecanismo de dissociação - o que poderá acontecer se a criança está sempre a apanhar - ele acaba por se tornar uma parte integrante da nossa forma de lidar connosco e com o mundo e é muito provável que nos tornemos pessoas com uma grande dificuldade em lidar com os nossos sentimentos e em integrá-los de forma saudável. 

Por outro lado, se a criança é agredida demasiadas vezes isto pode mesmo por em causa esse seu instinto básico para se ligar e vincular à mãe ou pai e, nos casos mais sérios, isto poderá estar na base daquilo a que se chama o apego desorganizado que hoje se sabe estar na base de muitas patologias que podem manifestar-se só na idade adulta. 

Mas, mesmo nos casos mais leves - quando falamos daquilo a que erradamente se chama a palmada pedagógica por vezes - a verdade é que esta continua a ser uma agressão. Sempre que nos provocam dor, mesmo que seja ligeira, isso é sentido como uma ameaça à nossa integridade porque, para além deste instinto de vinculação, também temos um instinto básico de protecção que nos leva a evitar a dor e todas as potenciais ameaças à nossa integridade física.

Para além disto, quando um pai ou mãe batem numa criança, geralmente fazem-no por causa de uma sensação de frustração da sua parte, pela sensação de que, naquele momento, não conseguem fazer mais nada para chegar aos filhos e para modificar o comportamento destes. Geralmente, quando os pais batem nos filhos é porque a sua zanga se tornou tão intensa que não foram capazes de controlar esse impulso então, para além da questão física, há aqui também a questão psicológica: a criança sente também toda essa agressividade que acaba por interiorizar sentindo que foi por sua culpa que o adulto perdeu o controlo. O que, por sua vez, a faz sentir-se com uma má pessoa, ou uma má criança, faz com que sinta que é tão má que os pais nem conseguem manter a calma consigo. Isto transmite à criança a mensagem de que há algo de profundamente errado consigo o que se pode tornar num sentimento devastador que acaba por acompanhá-la toda a sua vida.  

As crianças nascem realmente com esse instinto básico de quererem sentir-se amadas e protegidas pelos pais, isto quer dizer que têm também um instinto básico de querer agradar aos seus pais. E quer dizer também que os pais são a sua referência e que elas aprendem a ver-se exactamente da mesma forma que sentem que são vistas. Todos nós temos o desejo básico de nos sentirmos aceites, integrados e reconhecidos. Todos temos necessidade de sentir que pertencemos a um grupo, neste caso à nossa própria família e, para isso, temos necessidade de sentir que os outros nos aceitam, nos acolhem na sua presença. Sempre que um pai ou mãe perde a paciência e o controlo com um filho seu aquilo que ele sente é que, nesse momento, ele não tem o direito de existir na sua presença, nesse momento ele não é acolhido na sua presença e perde esse reconhecimento e essa necessidade de pertença o que, para uma criança pode ser um sentimento verdadeiramente destrutivo. 

Esta sensação de que há algo errado consigo, ou de que não é aceite, gera na criança um sentimento forte de vergonha. Que muitos pais pensam que será benéfico porque assim a criança não voltará a repetir aquele comportamento. Acontece que isto não é verdade. Esse sentimento de vergonha é das coisas mais corrosivas que podemos fazer uma criança sentir. Esse sentimento tem uma fisiologia muito concreta: ele desperta a chamada resposta de luta ou fuga (neste caso, mais a fuga) que é uma resposta ao stress que prepara o corpo para lidar com uma ameaça produzindo uma série de alterações fisiológicas como uma elevação grande dos níveis de cortisol, por exemplo. Isto quer dizer que toda a fisiologia da criança se altera e este sentimento de vergonha, quando é activado deste modo, pela sensação de ameaça, é das coisas mais nocivas que a criança pode sentir porque a leva a sentir-se indigna do amor dos seus pais e faz com que ela sinta que todos os seus instintos mais básicos, de integração e de acolhimento estão a ser frustrados e que ela não tem capacidade para os satisfazer. Isto é um sentimento duro para qualquer adulto mas ainda mais para uma criança que tem ainda tão forte este instinto de ligação aos pais e essa necessidade tão grande de se sentir aceite por eles.

Então se a criança não consegue satisfazer esses instintos, se tantas vezes eles são os causadores desse sofrimento e dessa angústia intensas que a criança sente sempre é vítima desse comportamento agressivo por parte dos pais, o melhor será procurar alguma forma de minimizar essa dor, tentando ignorar esses instintos.

Se isto acontecer com alguma frequência, o que vai acontecer é que será tão difícil à criança lidar com este sentimento que o melhor será proteger-se dele procurando não sentir esse vínculo com os seus pais, ou seja, tentando o mais possível ignorar esse instinto básico que lhe diz que deveria querer agradar aos pais e sentir-se aceite por eles. Isto quer dizer que, no futuro, a tendência será para que a criança se porte ainda pior. Mas, o pior de tudo, é que quer dizer que a criança será forçada a aprender a ignorar os seus instintos e os seus sentimentos mais básicos com medo de ser magoada e de se tornar demasiado vulnerável. E aqui cresce então o típico adulto que bate nos filhos e que repete que também apanhou muito e isso não lhe fez mal nenhum.

Uma das razões que leva os pais a bater nos filhos é o facto de sentirem que precisam de os controlar mas, ao porem em causa o instinto de vinculação das crianças, as palmadas repetidas têm o efeito exactamente contrário. 

Na cabeça destes amigos estava também a questão: então como é que controlas o teu filho se nunca lhe bateste? 

Para responder a isto, em primeiro lugar é preciso abandonar esta ideia de que as crianças precisam de ser controladas. Uma criança precisa de ser aceite, precisa de ter uma boa ligação com o pai ou com a mãe e, se isso acontecer, nas coisas importantes, a criança irá deixar-se facilmente guiar. Porque, se ela ligação existir, se for sólida, se não for constantemente posta em causa, a criança sabe que pode confiar nos seus pais e confiar nos pais implica que, nas decisões importantes, a palavra destes conta muito. Confiar nos seus pais não implica necessariamente que a criança esteja pronta para desligar a televisão quando lho pedimos, ou que esteja pronta para sair de casa exactamente na hora em que achamos que deveria sair e não significa que a criança obedeça cegamente a todas as nossas ordens. Até porque uma criança que confia nos pais e que se sente acolhida, protegida, aceite e segura também é uma criança com mais espaço para manifestar as suas preferências que nem sempre correspondem às nossas. Mas, uma criança que confia nos seus pais é uma criança que, nos momentos importantes, sabe que são estes que têm a última palavra e, nos momentos em que se sinta de algum modo posta em risco, sabe que pode contar com eles para lhe mostrarem a direcção a seguir. 

E, quando os pais confiam na criança, também sabem que esse instinto está presente. Quando os pais confiam na criança e deixam que a sua natureza floresça podem encontrar uma criança que até resiste em muitas coisas mas encontram também uma criança que se torna fácil de orientar quando é mesmo preciso fazê-lo e de educar porque é uma criança que se entrega e que deixa o seu instinto funcionar e que também confia nos pais.

Uma criança a quem os pais batem sempre que lhe querem mostrar que não pode fazer algo, ao fim de algum tempo até pode deixar de ter esse comportamento mas, o mais certo, é que apareçam outros ainda mais graves porque a criança deixou de se sentir segura e acolhida pelos pais e se deixou de se sentir segura então é muito fácil que deixe de confiar nos pais. E deixar de confiar nos pais é, por um lado, deixar de os aceitar como guias ou orientadores mas também é deixar de confiar em si própria e nos seus instintos. E uma criança que deixa de confiar nos seus instintos é uma criança com muito mais tendência para fazer coisas erradas. Porque é uma criança que perdeu a sua bússola, é uma criança que deixou de procurar referências nos adultos e que não tem capacidade para as encontrar em si própria. 

Então nenhuma criança ou adolescente se porta mal por ter apanhado pouco. Mas há muitas crianças e adolescentes que se portam mal justamente porque apanharam demais e, cada uma dessas palmadas, deixou uma marca na sua capacidade de criar vínculos saudáveis e de confiança e na sua capacidade de se sentir bem, seguro e feliz consigo mesmo. E cada uma dessas marcas é mais um passo na direcção de um comportamento menos ajustado, mais desadequado e sobretudo, cada uma dessas marcas é mais um passo no caminho de um coração que sofre e que, muitas vezes, sofre tanto que precisa de se desligar de si próprio para não ter de lidar com essa dor diariamente. E quando nos desligamos de nós também nos desligamos dos outros e aí nada mais importa, deixamos de querer agradar a quem quer que seja. E uma criança que já perdeu todo o desejo de agradar é uma criança que já ninguém conseguirá controlar. Mesmo que até sejamos capazes de arranjar uma maneira de eliminar um determinado comportamento, se não formos capazes de encontrar o caminho para o coração das crianças, então não haverá maneira de os fazermos verdadeiramente seguir nenhum tipo de orientação nossa. 

Então quando achamos que uma criança se porta mal vezes demais, em primeiro lugar, precisamos de olhar para a ligação que temos com ela. Precisamos de perceber se ela se sente segura connosco, como diz Gordon Neufeld, psicólogo cujo trabalho admiro, precisamos de saber se ela se sente convidada a existir na nossa presença. E é tão simples ou tão complicado como isto: a única forma que temos de influenciar o comportamento de uma criança é certificando-nos de que ela nos quer agradar e que ela nos aceita como guias e, para isso, temos que ter a certeza de que esse vínculo ainda está intacto. Não adianta querer corrigir comportamentos sem nos focarmos no contexto em que eles acontecem: a relação. 

E é esta relação, a relação que temos com os nossos filhos e que eles têm connosco que deverá estar sempre na base de tudo e que deverá ser sempre o foco central da nossa preocupação. Se eu um dia tiver vontade de bater no meu marido uma das coisas que provavelmente me impedirá de o fazer será justamente essa preocupação com a relação. Porque se eu lhe batesse sei que esta seria fortemente afectada, como é óbvio. Então é nisto que também precisamos de pensar sempre que batemos nos nossos filhos: mais do que pensar se isso irá eliminar ou não aquele comportamento (e a maior parte das vezes não elimina, pelo menos, não à primeira) deveremos pensar no que é que isso fará à relação. 

E, se já batemos nos nossos filhos alguma vez, é sempre tempo de olhar para trás e perceber se isso alterou alguma coisa, se alguma coisa mudou dentro deles para connosco ou para com eles próprios. Se for esse o caso também é sempre tempo de falar sobre isso, de pedir desculpa e dizer que não sabíamos fazer melhor. 
Nunca é tarde para mudarmos a forma como nos portamos com os nossos filhos e nunca é tarde para reparar as relações. 

Isto é válido para todas as vezes que batemos mas também para todas as vezes que gritámos ou que nos descontrolámos e dissemos coisas que não queríamos ter dito. As crianças não precisam de pais perfeitos, que não gritam e não perdem o controlo mas, quando isso acontece, precisam muito de saber que não foi por culpa delas que isso aconteceu. Quando nos zangamos mais do que gostaríamos é importante que os nossos filhos saibam que não são eles que estão errados mas que fomos nós que não fomos capazes de nos controlar. Isto faz toda a diferença. 
E assim as criança também aprendem que, apesar de todos os conflitos, é possível reparar as relações uma lição que também pode ser valiosa para os seus relacionamentos futuros. 

Não bater numa criança não quer dizer que temos de aceitar todos os seus comportamentos, não quer dizer que, por vezes, não tenhamos de lhes impor certas coisas mas, significa que quando o fazemos assumimos toda a responsabilidade pelo nosso comportamento e não os fazemos sentir que foi só por culpa deles que perdemos o controlo. 

E isto não quer dizer que temos de fingir que gostamos de tudo o que eles fazem mas é importante mostrar-lhes que, quando não gostamos de algo, não os estamos a por a eles em causa. Não gostar de um comportamento é muito diferente de não gostar de uma criança. Acontece que os nossos filhos nem sempre sabem ou sentem isso. Por isso, sempre que os queremos corrigir é muito importante que façamos primeiro esta distinção para nós próprios e depois que encontremos forma de o por em prática.

Então, não bater não quer dizer que não podemos disciplinar ou educar mas quer dizer que temos consciência de que o nosso papel de orientadores dos nossos filhos é demasiado importante para ser posto em causa por causa de uma palmada. 

Gordon Neufeld, no seu trabalho, fala também muito da importância de não castigar as crianças com os chamados time-out's em que a criança fica durante um tempo, supostamente a pensar naquilo que fez. Porque, da mesma forma que uma palmada, o que este tipo de castigos fazem é usar a necessidade que a criança tem de se sentir próxima de nós para a atingir de algum modo. Acontece que, como este psicólogo explica, quando fazemos isto estamos a atingir a criança no seu ponto mais vulnerável: a sua necessidade de de sentir ligada a nós. E, quando o fazemos repetidamente, tal como acontece com uma criança que está sempre a apanhar a única forma que a criança tem de lidar com essa dor profunda que abala todos os seus instintos mais básicos é tentando ignorar, desligar esses instintos. E, mais uma vez ficamos com uma criança que se distancia cada vez mais de nós e de si mesma e que se torna cada vez mais difícil de educar ou orientar. 

Então como se educa sem castigos ou sem palmadas? 

Fazendo exactamente o contrário do que estes dois actos provocam: fortalecendo a ligação e convidando a criança a sentir-se segura connosco. Quando as crianças estão constantemente a fazer coisas que nos provocam não estão à procura de limites, como tantas vezes se diz, no sentido de perceberem o que podem ou não fazer. Quando uma criança faz repetidamente coisas que nos provocam e que mexem connosco significa que estamos perante uma criança que, pelo menos naquele momento, não se está a sentir acolhida. Uma criança que, pelo menos naquele momento, não se está a sentir muito ligada a nós. E, por isso a criança precisa de nos provocar porque os seus instintos lhe dizem que essa ligação é essencial e porque a única forma que ela está a ser capaz de encontrar naquele momento de preencher esses instintos e de nos sentir mais presentes é quando nos zangamos com ela. Porque, nessa altura, pelo menos toda a nossa atenção se volta para a criança e ela pode sentir que, ainda que pense que há algo de errado consigo, pelo menos nós importamos-nos com ela, tanto que até nos descontrolamos por sua causa.

Nestes casos não precisamos de aceitar o comportamento da criança mas precisamos mesmo de encontrar formas de lhe mostrar que a aceitamos a ela, que estamos presentes, sem que ele precise de procurar estratégias para sentir essa presença. Precisamos de lhe mostrar que, para usar mais uma expressão de Neufeld, ela pode descansar no nosso amor. Só assim a criança poderá seguir a sua natureza e confiar o suficiente em nós para se deixar guiar e orientar sem precisar de nos provocar.

E quando damos mais atenção a uma criança que se portou mal não quer dizer que estamos a premiar esse comportamento, mas quer dizer que confiamos na criança, que reconhecemos a sua necessidade de nos ter por perto, de nos sentir e que confiamos nos seus instintos. Estamos a dizer-lhe que confiamos nela e isso é o melhor presente que podemos dar a uma criança. Porque se nós confiamos nela ela pode confiar em si própria e uma criança que confia em si própria é uma criança que, mais facilmente, sabe fazer as escolhas certas. E só uma criança que se sente acolhida e segura é que poderá ter a confiança necessária para perceber que errou e que poderá ter também a segurança necessária para tentar um novo comportamento.


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Palestra - Défice de Atenção e Hiperactividade

Deixo aqui os vídeos da palestra que dei no Jardim de Infância do Prior Velho, a partir de uma  iniciativa de alguns pais e educadores, para falar de Défice de Atenção e Hiperactividade. Uma visão das causas, das características e de como lidar com esta limitação.