quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Ausências - efeitos da privação da figura materna


A este respeito os efeitos da separação da mãe podem ser comparados aos dos efeitos de fumar ou de radiações. Apesar dos efeitos das doses pequenas parecerem insignificantes, eles são cumulativos. A dose mais segura é uma dose zero.” John Bowlby (1973) – Attachment and Loss. Volume 2 – Separation: Anxiety and Anger.

          Esta frase, escrita por Bowlby, no seu livro que se tornou, há muito tempo, um clássico da

Psicologia, refere-se a um estudo* feito com macacos bebés que eram separados das suas mães por períodos que variavam entre os dois dias e as três semanas. Estes estudos, feitos por vários investigadores e com mais do que uma espécie de macacos, confirmaram a ideia de Bowlby de que a presença da mãe é de facto uma condição essencial para o bem-estar e para o bom desenvolvimento de qualquer primata. Estes macaquinhos, mesmo quando continuavam no seu meio ambiente, com os outros macacos e a única coisa que faltava era a mãe (que era retirada desse ambiente durante alguns dias ou semanas) mostravam claros sinais de que essa falta os tinha perturbado. Durante as primeiras horas da ausência da mãe estes macacos choravam e gritavam como se chamassem por ela, depois, acabavam por ficar aparentemente mais calmos mas mostravam um comportamento muito mais apático e deprimido. Quando a mãe voltava, durante os primeiros dias, estes mostravam-se muito mais necessitados da sua presença, passando quase a totalidade do seu dia a tentar manter o contacto físico e a proximidade com esta e mostrando-se muito mais alerta e vigilantes com todo o tipo de acontecimento que pudesse indiciar que a mãe iria desaparecer outra vez. Mas o dado mais importante talvez, e ao qual a frase citada se refere, é que, passados alguns dias ou até semanas, mesmo quando já parecia que tudo tinha voltado ao normal, estes macacos continuavam a ter um comportamento diferente daqueles macacos que nunca tinham sido separados das suas mães. Só que este comportamento só se via em situações de desafio ou de stress: quando eram colocados objectos estranhos na jaula, por exemplo, estes macacos mostravam-se muito mais receosos do que os outros e tinham muito menos iniciativa de explorar esses objectos. E, quando havia algo fora do normal nas suas rotinas, estes macacos mostravam-se muito mais receosos, inseguros, necessitados da presença da mãe e também com muito menos vontade de explorar ou de correr algum tipo de riscos, quando comparados com os outros que nunca tinham sofrido com a ausência das suas mães.

          Bowlby acreditava que estas observações eram válidas também para os humanos. Na verdade ele descreve também muitas observações que foram feitas em que crianças pequenas precisavam ser afastadas da mãe, geralmente porque esta estava doente ou ia para o hospital para ter outro filho (coisa que nos anos 50, 60, podia demorar vários dias) e as crianças ficavam numa instituição ou com famílias de acolhimento. Nos casos em que as crianças iam para instituições, a experiência era sempre mais traumática, principalmente se a criança fosse sozinha, sem nenhum irmão. Aquilo que se verificava era um comportamento em tudo idêntico ao dos macacos: as crianças começavam por chorar muito, depois apresentavam um comportamento apático e deprimido. Quando voltavam a estar com a mãe o comportamento podia oscilar entre uma preocupação intensa com manterem-se perto dela a todo o custo, e uma vigilância constante de tudo o que pudesse indicar que esta se iria voltar a ausentar, até um comportamento mais ambivalente em que a criança parecia já não procurar a mãe e não querer a sua presença. Na verdade, este comportamento mais ambivalente era mais provável quanto maior fosse o tempo desta ausência e se a criança tivesse entre um e três anos. Segundo Bowlby, a partir dos três anos, dava-se uma alteração grande no comportamento da criança que parecia já muito mais capaz de suportar separações curtas com menos sofrimento.
O que faltou nesta observação das crianças humanas foi uma observação mais detalhada de como esta ausência as afectou mesmo passadas algumas semanas de ter acontecido. Mas, de acordo com o que é possível saber hoje em dia, através da psicofisiologia, tudo indica que estas ausências possam ter o mesmo efeito nas crias humanas e nos macacos, tornando-as menos resistentes ao stress e menos resilientes.

O sistema de resposta ao stress

             Sue Gerhardt, psicoterapeuta, explica que quando um bebé é repetidamente exposto a situações de stress – e para Bowlby a ausência da figura materna era das situações mais stressantes para um bebé - sabe-se que o seu sistema de resposta ao stress começa a libertar grandes quantidades de cortisol. O que acontece é que este cortisol permanentemente a flutuar no sistema em grandes quantidades acaba por danificar o hipocampo, fazendo com que os receptores de cortisol se desliguem e com que este se torne menos sensível e capaz de informar o hipotálamo que já se produziu cortisol suficiente. Isto quer dizer que esta resposta de alarme acaba por ficar permanentenmente ligada o que significa que a criança passará a viver num estado de tensão quase constante em que será muito mais difícil lidar com qualquer desafio em que qualquer situação nova se tornará muito mais assustadora, tal como acontecia com os macaquinhos que se mostravam muito mais receosos e inseguros para explorar o ambiente em situações novas.

         O comportamento da mãe depois da reunião

            A única coisa que estes investigadores encontraram que fazia alguma diferença na intensidade das mudanças que aconteciam nos macacos era o comportamento da mãe após a reunião de ambos: se a mãe rejeitasse a cria e a sua necessidade constante de conforto e proximidade, esta cria mostrava-se muito mais receosa. Nos casos em que a mãe se mostrava tolerante e receptiva a manter o contacto com a cria, estas continuavam a ter algumas alterações na sua capacidade de lidar com os desafios mas eram menos intensas.
Então, a lição a retirar daqui é que de facto a presença constante da mãe é essencial para o bom desenvolvimento de um bebé mas, se por algum motivo, esta tiver mesmo que ser interrompida, é muito importante a mãe estar disponível para reparar esse dano e para dar ao seu filho toda a segurança que ele pode ter perdido através de muito contato físico e de uma compreensão e aceitação das alterações de comportamento que este pode apresentar.

             Hoje em dia, muitas vezes, as obrigações da vida moderna fazem com que precisemos de nos ausentar muitas vezes, por vezes, essas ausências repetem-se diariamente quando o bebé é deixado numa creche ou infantário. Então é muito importante que sejamos capazes de reparar as marcas que essas ausências vão deixando e a forma de o fazermos é simplesmente escutando os nossos filhos, olhando para eles e deixando que nos mostrem de que é precisam para seja possível reparar a ligação. O elo que une uma mãe ao seu filho é muito forte mas, apesar de ser inquebrável, pode ficar fragilizado por separações prolongadas ou muito repetidas. Então a forma de repararmos esse elo é procurarmos mostrar que estamos totalmente disponíveis quando voltamos a estar juntos. E, com bebés e crianças muito pequeninas, a melhor forma de o mostrar é através de muito contacto físico que é essencial para o seu bem-estar.
Por vezes os pais não percebem porque é que o filho parece estar tão bem na escola e em casa chora muito mais ou faz tem comportamentos que parecem regressivos. Mas é muito natural que isto aconteça porque a criança, quando percebe que não tem alternativa e que a mãe não vai aparecer tão cedo acaba por adoptar um comportamento que parece mais conformado mas que não quer dizer que esteja alegre ou feliz. Isto não quer dizer que a criança esteja muito bem na escola e mal quando chega a casa, quer simplesmente dizer que, na escola, a criança percebe que não vale a pena chorar ou protestar porque a mãe não vai voltar. E, quando a criança volta finalmente a estar com a mãe, por vezes, pode ser difícil processar todas essas emoções que a ausência gerou e então surgem comportamentos que os pais nem sempre conseguem compreender.
Outras vezes também pode acontecer que, depois de uma ausência mais prolongada a criança mostre um comportamento agressivo para com a mãe. Bowlby via esta como uma consequência natural dessa ausência: a zanga da criança era a sua forma instintiva de fazer com que a sua figura de apego não voltasse a repetir essa ausência como se, ao castigá-la com esse comportamento agressivo quisesse impedi-la de voltar a ausentar-se. 
O mais importante é termos noção de que não há nada de natural na forma como vivemos a vida hoje em dia, longe dos nossos filhos, deixando-os ao cuidado de estranhos tantas horas seguidas. E, por isso mesmo, não é de estranhar que, muitas vezes, eles tenham comportamentos que também não nos parecem naturais ou que vemos como estranhos. O que é preciso é sermos capazes de nos sintonizar com essas pequenas feridas e estarmos totalmente disponíveis para as sarar. E a única forma de o fazemos é oferecendo-lhes a nossa presença e o nosso coração, totalmente, sem reservas, sempre que eles precisarem e sempre que estivermos juntos.

*Fico sempre num dilema quando cito estudos feitos com animais: por um lado não gosto de os citar como se fossem algo normal e aceitável, porque não acho que tenhamos o direito de usar e criar animais em cativeiro, como neste caso, apenas para serem estudados e receio que ao citar este tipo de estudos esteja de alguma forma a contribuir para a sua normalização. Por outro lado, é verdade que já foram feitos e deram um contributo importante para a psicologia e para o desenvolvimento de algumas teorias. 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Co-Sleeping - Bebés em Relação


Quando mais leio sobre o desenvolvimento dos bebés mais me convenço de que estes não foram mesmo feitos para estar sozinhos. As investigações mais recentes acerca dos processos neurofisiológicos têm vindo a demonstrar de forma cada vez mais indiscutivel que os bebés nascem de facto programados para estabelecer relações significativas e que essas relações são tão essenciais à sua sobrevivência e a um bom desenvolvimento como o alimento. Na verdade, podemos até dizer que essas relações são mais importantes do que o alimento como o demonstram as observações feitas em orfanatos da primeira metade do século XX, onde as crianças eram criadas em ambientes assépticos, quase sem contacto com germes ou vírus porque não contactavam umas com as outras e tinham apenas o mínimo de contacto possível com os adultos e onde recebiam todo o alimento de que necessitavam mas que, no entanto, tinham taxas de mortalidade muito superiores ao que seria de esperar e às das crianças que viviam com as famílias, a maior parte das vezes, com ambientes muito mais contaminados e nem sempre com muito alimento. As experiências feitas por Harry Harlow com macacos recém nascidos, nos anos 60 também demontram que o contacto físico parece tão ou mais importante do que alimento. Este investigador, numa série de estudos polémicos em que macaquinhos recém-nascidos eram afastados das suas mães e criados em isolamento, demonstrou claramente que estes primatas estão programados para procurar instintivamente uma fonte de conforto físico tanto ou mais do que uma fonte de alimento. Nestas experiências – em que o bem-estar dos macacos foi claramente ignorado - Harlow, colocava dentro das jaulas dos macaquinhos um cilindro de arame que, em metado dos casos, estava revestido com um material de tecido macio e agradável ao toque. Dentro destes cilindros era sempre colocado um biberão de onde os macaquinhos podiam obter o leite necessário à sua sobrevivência. O que se verificou foi que os macacos bebés passavam sempre muito mais tempo junto dos cilindros de tecido do que junto dos de arame. E, sempre que se assustavam com um barulho ou qualquer outro estímulo, estes macaquinhos recorriam ao cilindro revestido de tecido e nunca ao de arame, mesmo quando este era  a sua única fonte de alimento. Estas experiências demonstraram claramente que a necessidade de contacto físico é tão importante ou até mais ainda do que a necessidade de alimento. Outra coisa que se observou com estas foi que, depois de crescerem nestas condições de isolamento, os macacos quando eram postos em contacto com outros macacos já não sabiam relacionar-se e, se chegavam a ter crias, eram totalmente incapazes e incompetentes como mães.
Outros dados indicam que os bebés nascem com o instinto de estabelecer relações: o facto de serem capazes de reconhecer a voz e o cheiro do leite da mãe apenas algumas horas depois de nascerem, o facto de mostrarem sempre uma preferência por imagens de rostos humanos, o próprio choro que tem como finalidade comunicar que algo não está bem e fazer com um adulto intervenha, os comportamentos de sorrir e balbuciar que rapidamente se começam a manifestar principalmente para com as principais figuras de apego, etc. 
Há também observações que mostram que os bebés começam muito cedo a ser capazes de ler as emoções, como a experiência da cara neutra desenvolvida de Edward Tronick, em que bebés de três meses já mostram reacções de angústia e aflição quando a mãe mantém uma cara que não demonstra nenhum tipo de emoção para com a criança e não responde às suas chamadas de atenção. Bastavam três minutos para estes bebés ficarem bastante aflitos quando viam que os seus esforços para trazer a mãe de volta à interacção não resultavam e estes demoravam ainda alguns minutos até voltarem a interagir normalmente quando a mãe voltar a uma atitude natural. Ver aqui o vídeo desta experiência

James McKenna, um antropólogo dos E.U.A., que desenvolveu e participou já em dezenas de estudos sobre o sono dos bebés, também defende que, nos primeiros tempos de vida, tudo indica que os bebés não estão preparados para passar muito tempo sozinhos. Este autor que observou dezenas ou centenas de pares de mães e bebés no seu laboratório do sono explica que, quando mãe e bebé dormem juntos apresentam padrões cerebrais e respiratórios muito semelhantes. Segundo este investigador, o bebé, que nasce com um sistema respiratório que está em formação durante os primeiros três meses de vida, precisa da presença da mãe para regular a sua respiração. Até aos três meses os bebés, com um sistema respiratório ainda imaturo, ficam mais sujeitos à ocorrência de apneia (paragens respiratórias) que, se o bebé estiver num sono profundo podem ser perigosas ao ponto deste não acordar e podem ser uma das causas para o síndroma de morte súbita (um síndroma em que os bebés morrem, quando estão a dormir, sem nenhuma causa conhecida e sem terem apresentado nenhum tipo de sintomas). Então McKenna explica que, quando os bebés dormem com as mães, têm geralmente um sono mais superficial e acordam mais algumas vezes por noite (adormecendo também mais rapidamente) o que pode representar justamente uma protecção contra o síndroma de morte súbita. As estatísticas da morte súbita em países onde as crianças dormem sozinhas e acompanhadas parecem confirmar esta hipótese: nos E.U.A. o indíce de morte súbita é de 2 por cada 1000 nascimentos, no Japão, onde a regra é os bebés dormirem com os pais, este indíce é de 0,2 por cada 1000 nascimentos e em Honk Kong, onde os bebés também costumam dormir com os pais, e de 0,1, por cada 1000 nascimentos.
Na verdade, na maior parte do mundo e durante grande parte da história humana, os bebés sempre dormiram com os pais. Em todas as sociedades mais tradicionais, como as asiáticas, tal como em todas as espécies de mamíferos, a tendência é para os bebés dormirem com os pais. Só na sociedade ocidental, e só recentemente é que passou a ser mais comum os bebés dormirem sozinhos do que na cama dos pais e a verdade é que, tudo indica, que estes não estão programados para o fazer.

Nas sociedades ocidentais existe, hoje em dia, uma tendência muito grande para que os pais se preocupem com a independência dos filhos. E, desde muito cedo, isso revela-se na preocupação de os porem a dormir sozinhos no quarto, de os deixarem adormecer sozinhos, de não responderem sempre ao seu choro, de não lhes pegarem muito ao colo, de não darem de mamar durante muito tempo, etc. Mas, a verdade é que cada vez mais estudos mostram que esta não é uma forma nada natural de criar um ser humano. Meredith Small, no seu livro Our babies Ourselves, descreve a relação que as várias sociedades humanas têm com as suas crias, e demonstra que, mesmo nas tribos onde a independência tende a ser mais valorizada é comummente aceite que um bebé é um ser totalmente dependente e essa dependência é reconhecida e encarada com toda a naturalidade, pelo menos durante os primeiros anos de vida. Em todas as sociedades, excepto na ocidental, é aceite que o bebé é um ser dependente da mãe e que essa dependência não deve ser desvalorizada mas sim aceite, reconhecida e protegida.


Winnicot um conhecido teórico do desenvolvimento infantil dizia que não existe tal coisa como um bebé isolado, um bebé só existe em relação. Mas, infelizmente, nas sociedades ocidentais, muitas vezes passa-se um tempo precioso da infância dos nossos filhos a tentar negar essa relação.

O co-sleeping é uma forma de reconhecer essa relação, essa dependência, de lhe dar espaço e tempo para existir. Dormir com os nossos filhos é perceber que os laços que nos unem a eles são algo que faz parte da cultura humana desde todos os tempos, é respeitar e honrar essa ligação física e emocional que não acaba quando pomos um bebé no mundo. É compreender que, mais do que o alimento físico, o bebé precisa de ser alimentado emocionalmente, precisa que lhe seja permitido alimentar-se também do corpo da sua mãe, do bater do seu coração, precisa que lhe seja permitido viver nesse estado de semi-fusão pelo menos ainda durante algum tempo, até que o seu sistema psicofisiológico amadureça o suficiente para poder funcionar por si e até que o seu coração se sinta capaz de guardar o amor da mãe e do pai mesmo quando está longe deles. Acredito que, numa cultura onde se passam tantas horas longe dos filhos o contacto físico que se pode ter com um filho enquanto dorme pode mesmo ser essencial para manter a ligação, aquilo que em inglês se chama bond e que podemos traduzir como o laço invísel que une os pais aos seus filhos. Sem um contacto físico quase constante nos primeiros meses e ainda bastante presente durante os primeiros anos, esse laço quebra-se muito facilmente e, quando o laço se quebra é difícil repará-lo.
James McKenna observou também no seu laboratório algo que muitas mães que dormem com os filhos descrevem: que há uma sintonia constante entre mãe e bebé, mesmo quando os dois dormem. Para para além do comportamento de mães que acarinhavam os filhos mesmo a dormir e que pareciam sempre conscientes da presença destes, para além da sincronia psicofisiológica que era possível observar entre ambos, este investigador também observou que havia uma tendência grande para que as mães acordassem exactamente alguns segundos antes dos filhos. Lembro-me de uma mãe que dormia com o filho me descrever isto quando eu estava grávida e de me ter acontecido exactamente o mesmo todas as noites que dormi com o meu filho em que ele acordava para mamar: acordava sempre uns segundos antes dele  e já sabia que ele iria acordar para mamar passado muito pouco tempo. Isto fazia com que lhe desse de mamar assim que ele acordava, o que fazia com que ele não precisasse de chorar nem ficasse agitado, tornando muito mais fácil que voltássemos os dois a dormir rapidamente. Isto só é possível porque esse laço, essa ligação que faz com o nosso organismo entre em sintonia é de facto algo natural e para o qual estamos programados. Mas é preciso que lhe demos espaço e condições para existir. De acordo com McKenna, se mãe e criança não estivessem a dormir juntos esta sincronização já não acontecia e não havia este sincronizar dos ciclos nem dos despertares.

Tal como diz Meredith Small, ao sobrevalorizar a independência dos bebés tudo indica que passamos por cima das suas necessidades e da sua programação biológica. E ao sobrevalorizar a independência na sociedade esquecemo-nos que só somos felizes em relação. Ninguém é feliz sozinho e as pessoas mais felizes são justamente aquelas que sabem reconhecer a sua dependência, são aquelas que mais procuram estabelecer relações e que o fazem com confiança e sem medo de reconhecer que o ser humano é um animal social, que não vive isolado do mundo. Jonathan Haidt, um investigador da área da Psicologia Moral, no seu livro, The Righteous Mind, cita uma série de estudos que demonstram que somos muito mais felizes quando nos permitimos fazer parte de um todo e não viver isoladamente, como este autor diz, o ser humano é parte macaco e parte abelha, um animal que vive em colónias onde todos trabalham para o todo e não em função de si próprios. Então, para criarmos bebés felizes, confiantes e saudáveis precisamos de reconhecer que os nossos filhos precisam de nós tanto quanto nós também precisamos deles. E assumirmos essa dependência mútua é o primeiro passo para um caminho de uma verdadeira autonomia que só é possível se formos capazes de a assumir como um percurso de interacção constante com o meio e com todos aqueles com quem temos uma necessidade vital de estabelecer relações e pontes para os seus mundos.